segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Você tem fome de quê?

Pense numa iguaria que você gostaria de comer nesse momento. Pode ser qualquer uma, até aquela que você comeu só uma vez na vida em uma viagem de férias. Pensou? É muito provável que se você pegar o seu carro e correr até um desses empórios-paraísos-dos-gourmets você tenha seu desejo atendido.

Se por um lado é ótimo ter acesso rápido a todos os ingredientes do mundo, por outro não há como evitar pensar que, nesses tempos de aquecimento global, esse vai-e-vém do comércio internacional de alimentos tem seu lado inconseqüente. Por que um sujeito que mora na Califórnia precisa comer um tomate que vem da Holanda? Bem, primeiro porque ele tem esse direito, mas provavelmente é porque o pequeno produtor de tomate das redondezas já não exista mais. Ele perdeu a corrida.

Tem um livro muito bacana que trata do assunto, ainda não traduzido. Chama-se Hungry City – How Food Shapes Our Lives, da pesquisadora Carolyn Steel. Arquiteta, Steel se debruça sobre a relação entre a comida e o desenvolvimento das cidades. Ela lembra que antes dos meios de transporte desenvolvidos os centros urbanos cresciam à medida que sua população pudesse ser abastecida. Uma metrópole como Paris, afastada do litoral e com um rio Sena não-navegável, só podia crescer à medida que o cinturão de pecuaristas e agricultores em torno dela matasse a fome de seus habitantes.


Sem a limitação da distância entre produtores e consumidores passou a ser possível erguer metrópoles no meio do deserto do Dubai. Steel defende uma era neo-geográfica, em que as cidades voltem a ter relação com a natureza, com seu entorno, caso contrário caminhamos para uma vulnerabilidade muito perigosa. O exemplo extremo é a África, um continente inteiro dependente de fontes externas de abastecimento. Com os preços do petróleo e dos alimentos nas alturas, a fome por lá voltou a crescer.


Não é à toa, portanto, que a onda agora na Europa é valorizar os produtos locais. Há restaurantes que colocam no cardápio a origem de seus ingredientes para deixar claro que são politicamente corretos (e também porque passa para o cliente uma sensação agradável, de que está comendo algo fresco ou não-industrializado). O debate local food X mile food move um mundaréu de gente, dê uma "googada" para conferir. Queiramos ou não, alimentação sustentável é o prato do dia no mundo civilizado.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Japa do Brasil

Entretida com os inagos que a Mari Hirata trouxe do Japão para o Gastro-pop de agosto, voltou-me à cabeça aquela história sobre comida japonesa do Brasil versus a de lá mesmo. Em tempo, inagos são gafanhotos que só comem arroz (e que bem temperadinhos e fritos dão ótimos petiscos), algo que só tem lá e, mesmo assim, em extinção. Uma vez eu li uma entrevista com um pesquisador estudioso da história da imigração japonesa em que ele dizia que nem o shoyo que usamos por aqui é “legítimo”, porque, na falta do trigo, os primeiros nipônicos que chegaram ao Brasil usaram o milho na composição de seu indispensável molho de soja, que ficou um pouco mais doce que o original. E assim ficou até hoje. Diferenças como essa estão por todo o cardápio de um bom restaurante japa do Brasil. Rodízio de sushi, por exemplo, é invenção de paulistano! E ninguém na terra do sol nascente come tantos sushis e sashimis quanto os habitantes da terra da garoa, vai entender...


O mais legal disso tudo é ver as comunidades de decasséguis no Japão espalhando por lá iguarias brasileiríssimas, como a coxinha e o pão de queijo. Nesse leva-e-traz de cultura gastronômica, quem ganha somos todos nós. E nada de radicalismos. Para os foodies de plantão, o importante é saber o que está comendo, e não deixar de comer nada, é claro.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Vamos tomar uma Paraty?



Para brindar com vocês essa minha estréia na blogosfera, vou deixar a champagne de lado e empunhar toda orgulhosa um martelinho cheio de uma boa cachaça. Será que existe um produto mais brasileiro que esse? Desde que o Brasil é Brasil, já no século XVI, havia engenhos e alambiques por aqui destilando essa maravilhosa aguardente. Tão maravilhosa que, quando chegou à Europa, os portugueses ficaram de orelha em pé com medo da nossa pinga tomar espaço da bagaceira deles.

E quem produz cachaça desde aquela época é a charmosíssima cidade de Paraty, pra onde eu corro sempre que tenho uma folguinha. Confesso que são de lá as minhas preferidas. Lá no Carlota, a gente gosta de fazer caipirinha com a Coqueiro (confira no pé do post o Top 5 do Carlota), que vai bem com tudo: cerejas, tangerina com caju, cajá e um monte de outras frutas. Um detalhe curioso e que revela o quão importante para a cachaça é a cidade de Paraty é que até o começo do século passado ainda tinha gente que usava o nome do município como sinônimo da bebida. Tem até um samba, cantado por Carmem Miranda e composto por Assis Valente, que dizia assim, lá pelos anos 1930:

“Vestiu uma camisa listada e saiu por aí. Em vez de tomar chá com torrada Ele bebeu Paraty”.

E o mais bacana é que a cachaça ganha cada vez mais adeptos, dentro e fora do país. No exterior, uma das responsáveis por esse sucesso é a Sagatiba, que começou sua saga pela Europa e agora está indo com tudo para os EUA. Eles me pediram um depoimento para o novo site americano deles, onde falo um pouco sobre gastronomia brasileira e, claro, sobre cachaça ( aqui o site, http://us.sagatiba.com/, e abaixo segue o vídeo!)





Pois então, vai uma Paraty aí?

Top 5 Carlota - Cachaças

Armazém Vieira
Maria Izabel
Coqueiro
Sagatiba
Nêga Fulô Carvalho