Se por um lado é ótimo ter acesso rápido a todos os ingredientes do mundo, por outro não há como evitar pensar que, nesses tempos de aquecimento global, esse vai-e-vém do comércio internacional de alimentos tem seu lado inconseqüente. Por que um sujeito que mora na Califórnia precisa comer um tomate que vem da Holanda? Bem, primeiro porque ele tem esse direito, mas provavelmente é porque o pequeno produtor de tomate das redondezas já não exista mais. Ele perdeu a corrida.
Tem um livro muito bacana que trata do assunto, ainda não traduzido. Chama-se Hungry City – How Food Shapes Our Lives, da pesquisadora Carolyn Steel. Arquiteta, Steel se debruça sobre a relação entre a comida e o desenvolvimento das cidades. Ela lembra que antes dos meios de transporte desenvolvidos os centros urbanos cresciam à medida que sua população pudesse ser abastecida. Uma metrópole como Paris, afastada do litoral e com um rio Sena não-navegável, só podia crescer à medida que o cinturão de pecuaristas e agricultores em torno dela matasse a fome de seus habitantes.

Não é à toa, portanto, que a onda agora na Europa é valorizar os produtos locais. Há restaurantes que colocam no cardápio a origem de seus ingredientes para deixar claro que são politicamente corretos (e também porque passa para o cliente uma sensação agradável, de que está comendo algo fresco ou não-industrializado). O debate local food X mile food move um mundaréu de gente, dê uma "googada" para conferir. Queiramos ou não, alimentação sustentável é o prato do dia no mundo civilizado.